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Fábio França é pesquisador, professor do curso de Relações Públicas e coordenador do Núcleo de Produtos da Agência Experimental de Relações Públicas da Universidade Metodista de São Paulo, além de Presidente do Conselho Regional dos Profissionais de Relações Públicas, 2ª região (Estado de São Paulo e Paraná) e maior autoridade em públicos no Brasil. Autor dos livros Públicos: como identificá-los em uma nova visão estratégica e Manual da Qualidade em Projetos de Comunicação, em co-autoria com Sidinéia Freitas.
Entrevista baseada no livro públicos: como identificá-los em uma nova visão estratégica. França, Fábio. Yendis Editora, 2004. 2ª. edição, 2008
Definir públicos de uma maneira clara é extremamente complicado tendo em vista a amplitude do termo e a diversidade de sentidos atribuídos. Aqui no Brasil, poucos se aventuraram a dissertar sobre o termo. Como foi o desafio de escrever sobre um conceito tão amplo e de difícil entendimento?
Em primeiro lugar, lembro a você que em 2008 saiu a 2ª. edição - revista e ampliada - do meu livro pela mesma editora. Interessei-me pelo tema “público” devido à dificuldade que os profissionais e estudantes encontravam na identificação segura dos públicos. Notei que as definições sociológicas não eram suficientes para analisar as relações de negócios das organizações com seus públicos. Comecei a pesquisar. Como não chegava a resultados positivos, resolvi fazer uma pesquisa qualitativa com 20 executivos de grandes organizações de diversos setores. Os resultados obtidos permitiram que aplicasse meus conhecimentos de filosofia para fazer uma análise comparativa das opiniões dos autores estudados e elaborar a conceituação lógica. Por sua natureza de coerência, acredito que pode ser aplicada com segurança na identificação e no mapeamento dos públicos de maneira segura em qualquer situação da interatividade organizações-públicos e vice-versa.
Você concorda que as relações públicas compreendem uma atividade de relacionamentos estratégicos nas organizações, cujo objetivo primeiro é o gerenciamento das relações? No livro “Relações Públicas: teoria, contexto e relacionamentos” (Grunig, J. E; Ferrari, M. A e França, F.) você poderá analisar em profundidade qual é a função das relações públicas no gerenciamento dos relacionamentos e da comunicação da organização com seus públicos. A obra demonstra de forma clara as funções operacionais, estratégicas e de gestão da atividade. Seu papel maior é trabalhar no core business da organização, elaborando com a “coalizão dominante” as diretrizes e políticas que devem orientar o relacionamento e as ações de comunicação com cada um de seus públicos.
No livro "públicos: como identificá-los em uma nova visão estratégica", você diz que o tema é pouco explorado no Brasil, onde a atividade remete mais ao tratamento das ações internas. Por que isso aconteceu? Como prejudica a imagem do RP, achas que ele é “subestimado”? Há uma possibilidade de mudança?
Como cito no meu livro, o conhecido acadêmico Solano Fleta, da Universidade Complutense de Madri, admira-se de que os profissionais de relações públicas não se preocupem com a correta identificação dos públicos, seu objeto principal de trabalho. Sem o perfeito conhecimento dos públicos aos quais você dirige suas mensagens, de seus interesses, objetivos, expectativas, cultura etc, o trabalho dos comunicadores será ineficaz. Você fala, mas “não sabe para quem está falando”. Se houvesse esse cuidado na elaboração dos projetos, dos planos de relacionamento e de comunicação, os resultados da comunicação seriam maiores e poderiam ser mensurados com mais objetividade. A organização precisa também dizer com clareza quais são seus objetivos nas relações com os públicos, o que esperam deles, qual é o nível de dependência em relação a eles etc, para que possa administrar de maneira ordenada e produtiva essa inter-relação.
Lucien Matrat define os públicos como: de decisão, de consulta e de comportamento. Numa visão teórica são muito interessantes tais conceitos, mas no seu livro, no 2º capítulo demonstra que na prática tais conceitos não funcionam ou não são utilizados. Se a teoria que fundamenta não funciona, como agir na prática?
Meu trabalho é apenas uma contribuição para o estudo dos públicos e nada mais do que isso. Não desaprovo, nem condeno opiniões de outros autores, que são comumente adotadas. Isso demonstra que o tema é complexo e há muitas outras classificações não citadas no meu texto, que não é exaustivo sobre o assunto. Continuo pesquisando várias outras situações para completar o meu trabalho. Em cada caso, você deverá utilizar a conceituação de público que for mais adequada à situação em que você trabalha. Os conceitos de Matrat, por exemplo, são excelentes e aplicáveis em muitos casos. O que digo é que, como acontece com as definições de públicos internos, externos, mistos, a conceituação de Matrat permite que os mesmos públicos sejam classificados em categorias diferentes, o que pode causar confusões.
Qual a importância da pesquisa na atividade de um relações-públicas?
O conhecimento das diferentes técnicas de pesquisa é imprescindível para o relacionador público, pois se seu trabalho não for fundamentado de maneira científica, permanecerá fazendo projetos sob falsas premissas, o que impedirá a sua eficácia, tanto para o desenvolvimento de sua carreira, quanto para atender as necessidades das organizações para as quais trabalha. Infelizmente, os projetos pedagógicos dos cursos de Relações Públicas dão pouco valor ao ensino da pesquisa; os estudantes não se exercitam na prática da pesquisa e muitos profissionais ainda a fazem de maneira precária. Sem pesquisa, a atividade de relações públicas não será bem sucedida.
A concepção de público interno, externo e misto está ultrapassada, segundo o livro, público passa a ser uma questão de relacionamento, de essencialidade. Como está sendo articulado o conceito de público nas organizações contemporâneas? Já está numa nova concepção? E os profissionais de RP se adequaram aos novos conceitos?
Muitas empresas adotam a definição tradicional (geográfica) de públicos: internos, externos, mistos. Hoje é comum a utilização do conceito de stakeholders, proposta por Edward Freeman de que trato também no meu livro de maneira resumida. Muitos profissionais contestam, como é seu direito, minha classificação e a consideram difícil. Em muitas faculdades a conceituação lógica é adotada nos projetos experimentais e nos TCCs. Alguns concursos públicos já a inseriram nas suas provas. Como analiso, o problema de muitas definições é a falta de precisão, o que permite que um mesmo público seja categorizado, ao mesmo tempo, em diferentes posições. Isso dificulta a comunicação efetiva com os públicos de interesse da organização. A conceituação lógica elimina essas dissonâncias.
Consideras Relações públicas como uma atividade do futuro, ou chegou o tempo das Relações públicas?
No livro “Relações Públicas: teoria, contexto e relacionamentos”, a função de relações públicas é descrita com maestria na primeira parte por Grunig. Bem como sua abrangência, importância e valor para as organizações contemporâneas. As relações públicas não são uma atividade do futuro. Elas estão presentes e atuantes nas maiores organizações nacionais e internacionais e os profissionais dedicados a essa atividade são procurados para a gestão dos relacionamentos e da comunicação das organizações com seus públicos. Trata-se de uma profissão atual, universal, que pode ser exercida em qualquer parte do mundo seguindo o mesmo corpo de doutrina. E diante da globalização, do mundo sem fronteiras, da internacionalização das empresas, de seus produtos, a necessidade das relações públicas se faz sentir com procura crescente.
Gostaria que deixasse uma mensagem para os estudantes de Relações públicas, bem como também para os que pretendem cursar esse maravilhoso curso.
Como em qualquer outra profissão, o mercado competitivo de hoje existe e acolhe somente os profissionais excelentes.
Entrevista realizada por Rogério Saldanha Corrêa, acadêmico do 2º semestre de Relações Públicas da UFSM.
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